sábado, 19 de março de 2016

eu não digo tudo

eu não digo tudo

tenho
um poema pra você
um poema antes de ser
um choro engasgado
um latim gasto
um elogio vago
um vocabulário repetido
um égua cheio de sentidos
não me lembro dele, como, desmaio da memória
uma adaga entre a palavra rimada e a garganta
o fio contíguo, o embrião da alma que elevou
outrora a própria alma, desliga-se lentamente.
um descuido de percurso, no limiar das curvas
os peixes saltam os portais, livres águas expurgam
os próprios peixes, seus habitantes.
o mar das águas claras esqueceu dos rios turvos,
ainda mais, das límpidas fontes que nunca correm
caminham lentas pra lá, os embriões  que sabem
seu trabalho, agora são fios que não sabem soltar.
as almas gélidas, saúdam a memória da saudade
e a saudade a própria ação, procrastinar ir além
de ócio e só saudade sentir.
discurso repetido, de novo e de novo, sempre o novo
e o medo, dele os fios, de nós o solto.
ligados a palavra, o fio e o mar rompendo a matéria
indo  lá e voltando cá, uma solta de boi, gado bravo
na extensão do tempo, meu relógio parou, no poema
este vórtice catalizador de pré coisas que vão não ser.
o poema, você o eterno e ir-vir da alma, liga e plaina
sobre a alma, equilibra a alma, desequilibra a alma, e
é a alma, indo e indo, lindo, sendo isso de luz, que a 
alma é, e eu não e oposto sendo e os três não sendo
o poema, o poeta e a poesia, os dois são, agora.
o poema não é.

Paulo Freire





quinta-feira, 3 de março de 2016

Sessenta e seios.

Sessenta e seios.

Os já citados seios de Mariana desenham um número. Número este ímpar, apesar do desenho de dois seis modestos. 66. Quando vendados encegam meus olhos num dia de tara. E quando despidos calculam. E Mariana entende bem de arte e veste renda. E quando puxo a palavra francesa atrás dos pomos, lá está A moldura que me escolheu a moça. Estendo dois éles, um perfeito e outro oposto, avesso, Com a envergadura de quarenta e seis centímetros medidos E eis o quadro de um número, apenas, da grandeza- Colo de desenho em palavra que salivar na boca. Sêxtuplo onze dos algarismos que se temem -Com o perdão da palavra- Nunca tive sede de número e sou “descalculíaco” Nota: Pessoa incapaz de calcular descalça. E quando eu toco a maciez maçã da macieira de teus pomos Entendo Páris. Vênus. Rsrs. Sim. Vênus é a deusa mais bela, sim. Escando um verso para tua boca com um número zero. E desenho o número neutro em cada seis que compões teu busto. Um grande zero oval e vermelho, a mordida. Desfaço os éles, desenho um binóculo, apalpo como cego. E juntando duas curvas eu crio um caminho. Há agora uma bifurcação nas linhas. É uma baladeira, um estilingue, uma pelota, um balim. Bem ali dentro escondido atrás de todo esse caminho É que escondes a destreza do teu miocárdio.Estou na mira.

Justino;